Número 7 (2004)

Carta de Amor

Pedi licença à minha amiga, para transcrever uma carta de amor que me impressionou, que me afligiu, pela força das suas linhas e porque nunca foi enviada, e considerei um desperdício ficar arrumada numa qualquer gaveta até tempo indeterminado.


Às vezes sento-me e penso em ti.
As tuas palavras deixam-me a pensar em porque é que não estamos juntos.
Há muito que o que sinto por ti é mais que amor. Não sei o que é. Sei que ultrapassa o amor, aquele de que sempre ouvi falar. Às vezes nem sou capaz de te beijar por isso mesmo.
Quando vieste, não fui capaz de te largar um minuto, nem tanto de te dizer uma só palavra.
Não foi a primeira vez que passámos muitas horas juntos sem dizer nada, pois não?
Como podes desejar alguém que pouco fala junto de ti?
Ao mesmo tempo sinto-me bem e livre, quieta ao teu lado. Basta-me ver-te para todas aquelas células ansiosas que moram naquele cantinho do meu eu, acalmarem...repousarem...nem sempre se organizam, nem se importam com isso, mas repousam.

Não me consigo lembrar quando a possibilidade real do nós juntos, se perdeu, ou se diluiu. Nenhum de nós decretou que não queria mais. Nunca me tinha acontecido isso antes, nem nunca mais me voltou a acontecer. Talvez seja por não vivermos mais na mesma cidade. Provavelmente.
Ainda hoje quando aí vou por vezes, sinto-me tua. Quando retorno à minha vida daqui já me sinto de ninguém, apenas minha.. Acho que é por me separar de ti, por saber que nunca sei quando te tornarei a ver. Simplesmente não penso mais em ser tua, e deixo de sonhar com isso.

Mas às vezes sento-me e penso em ti.
Em como nunca fui capaz de ser muito diferente do que fui contigo. Já amei outras duas pessoas depois de ti......sim, eu sei que tu sabes e que também tu amaste outras pessoas, nunca fomos de lutar um com o outro por causa disso, mas não quero que penses que o faço agora. Apenas te escrevo para dizer que foi contigo que conheci pela primeira vez a minha maneira de amar, e ainda hoje permanece assim. Que é só junto de ti que me sinto Eu, que não preciso de largar palavras atrás de palavras para me sentir bem, e que acima de tudo sou tua amiga, mesmo no dia em que me escreveres a dizer que te casaste e isso me doer.