quarta-feira, 6 de maio de 2009

Número 57 (2008)

(não) Erro

Uma das frases que mais me marcou enquanto estudava Arquitectura, e que não me lembro quem me disse (como é possível??) foi que "um erro, nunca é um erro".
Antes de me fascinar, intrigou-me.
No seu contexto, foi uma frase bastante elucidativa. Por vezes, quando estamos a desenhar, há um traço que sai fora do que estamos a imaginar conscientemente, e quando isso acontece, exalamos alguma frustração. Repetimos o pensamento de outra forma e quando analisamos as nossas ideias, não é raro descobrir que aquele erro cometido algures no processo, afinal nos indica um outro caminho projectual viável.

E na vida? Aqui, fora do estirador?
Quando digo algo de que me arrependo?
Quando devia ter escolhido assim em vez de assado?
Intriga-me que esta frase não se aplique tão bem à vida como ao papel. Ou será que o papel aceita melhor os nossos erros do que nós próprios?
De qualquer das formas, quando interiorizei esta frase, passei a ter uma atitude mais optimista perante as coisas.
Quando sinto que errei, não só tento emendar o erro, como tento perceber em que medida esta frase se aplica ao momento.
Muitas vezes não tem aplicação imediata, muitas são as vezes em que não tem aplicação possível, e de quando em vez, essa frase, surge de forma inesperada, sem que seja preciso fazer algum malabarismo para que ela se encaixe em nós.
A minha amiga fazia anos e eu esqueci-me. Acontece-me frequentemente saber de cor uma data de aniverário, e quando chega o dia X, simplesmente esqueço-me...
Liguei-lhe no dia a seguir, e enquanto entoava uma festa de palavras telefónicas, oiço uma voz cansada que me diz:

- Patrícia? Que Patrícia?
- de Macau! Ainda no fim de semana passado estivemos juntas? Alô....
- A menina vai-me desculpar, mas eu acho que se enganou..
- oh meu deus...pois é...peço imensa desculpa, realmente a voz estava-me a parecer estranha, mas tive a sensação que tinha acabado de acordar, e como a pessoa a quem eu queria ligar fez anos e eu já venho com um dia de atraso, estava mais preocupada em dar os Parabéns do que perceber se estava ligar para o número certo!
- Pois olhe, não se atrasou não, porque eu faço anos na segunda-feira!
- A sério? Olhe e eu por acaso também fiz anos há três dias! Sendo assim, aqui ficam os meus Parabéns!
- Pois então Parabéns para si também! Ai menina, voçê agora deu-me uma alegria, nem imagina! É que eu estava ali no sofá a ver uma noticia tão triste, mas tão triste, e de repente o telefone toca e é você aí toda alegre, olhe! Já ganhei o dia! E que coincidência hã?

Afinal, um esquecimento nunca é um esquecimento, e um número errado, nunca é verdadeiramente errado!

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