quarta-feira, 23 de março de 2011

Número 32 (2007)

Poluição (2007)


A minha mãe sempre foi uma mulher de plantas. E isso sempre me agradou.O carinho que lhes dedica, faz-me acrescentar pitadas de optimismo a esta sensação tão negra que por vezes me invade, de que um dia, o planeta terra vai ficar sem a cor verde. Esta lufada de ar fresco que sinto ao chegar a casa, contrasta com o monóxido de carbono que por vezes inalo nesta cidade, cada vez mais poluída, cada vez mais cinzenta, disfarçada por prédios amarelo berrante que por vezes gritam por aí. Lembro-me de uma noite destas, caótica, em que o Bairro Alto estava apinhado de gente, e em que resolvemos deixar o carro na Avenida da Liberdade e ir a pé até lá acima. Confesso que expressei as toxinas que ia inspirando enquanto subíamos a encosta, mas ninguém percebeu o quão mal disposta fiquei, de facto. Diariamente tenho essas remeniscências, quando subo até à tona da Alameda Dom Afonso Henriques, em direcção ao atelier. Opto sempre por ir a pé aquele bocadinho, esperando ver os velhos que ali se reúnem todas as tardes e Os Lisboetas a vaguearem pela vida da cidade, isto, apesar de ter uma saída de metro mesmo em frente à porta do prédio para onde vou. Por vezes arrependo-me. A poluição dos autocarros e carros da Avenida Almirante Reis é simplesmente insuportável. 


Subo cinco andares para tentar, todos os dias, fazer Arquitectura, e muitas vezes os meus pensamentos se preocupam com estas questões ecológicas, e me fazem ser talvez uma rara arquitecta que tirou este curso e não tem qualquer ânsia de ter rápidamente uma obra sua, feita de raíz. Vou aspirando a conseguir tratar as feridas da minha cidade. A conseguir popular os seus cantos e pequenos centros, de jardins, de infraestruturas com actividades imensas que nos divirtam e nos façam amar esta cidade, ou encontrar soluções que simplesmente melhorem a nossa qualidade de vida. Sempre com o que já existe. 


Hoje ele dizia-me que Lisboa tem sempre uma luz fantástica, e não consegui evitar dizer-lhe que muitas vezes nem notava, já que aqui, junto ao solo tudo me parece frequentemente uma maravilha enublada pelos fumos do trânsitos. Pelas pessoas muitas vezes tristes, pelo dinheiro que ninguém tem e por estas crises que não se entende de onde realmente vêm.

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