Orientação
Há dias em que simplesmente envergamos um ar aprazível e acessível.
Ainda que não compreenda o que acontece em mim nesses dias em particular, que me torne assim aos olhos dos outros.
Não estou a vestir nenhuma roupa nova.
Não cortei o cabelo.
Não me levantei nem mais cedo, nem mais tarde que o habitual.
Não tenho emprego novo.
Não tenho namorado novo.
Não estou mais ligada à terra, porque para onde quer que vá, tenho sempre a cabeça na lua.
Não recebi nenhuma notícia extraordinária. Está tudo bem.
Penso, se transpareço conhecer esta cidade assim tão bem, se expresso nos meus gestos que ela é tão minha, ao ponto de, hoje particularmente, por todo o lado por onde passo, pessoas diferentes, me pedem orientações para os seus dilemas.
- Para ir para a Pastelaria Suiça qual é a melhor saída de metro?
- É melhor sair no Rossio, há lá uma saída que sai mesmo à frente da Pastelaria.
- E como é que eu vou para lá?
- Apanha aqui no Chiado a linha verde em direcção a Telheiras e sai no Rossio. É a primeira saída a seguir ao Chiado.
- Obrigada.
- De nada.
- Olhe desculpe, para ir para o Saldanha qual é a linha que devo apanhar?
- A Amarela. Vai agora na linha azul em direcção à Amadora Este e depois troca para a amarela no Marquês.
- Ah! Obrigada!
- De nada.
- Sinhora, para ir pr´ou Caixodré é aqui que eu tomo o trem?
- é sim!
- Ah qui bom! Sabe quando ocê tá em órbita?
- Se sei!
- Oh menina, vai-me desculpar, mas queria-lhe fazer uma pergunta.
- Diga, diga.
- Pode-me ver se a bainha da minha saia aqui atrás está descaída?
- Como?
- Desculpe lá, mas estou com uma sensação desconfortável aqui atrás, e não consigo ver, e tenho medo de estar com a saia desarranjada.
- Não vejo bainha descaída, parece estar tudo bem.
- Ah que bom! Obrigada. Mas então não compreendo o que se passa, mas sinto aqui qualquer coisa arrepanhada, sabe?
- Sei ..... (?)
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